De manhã

Rolou uma identificação com essa sua falta de vontade para encarar os primeiros momentos do dia. Aquela noite foi a primeira vez que dormimos juntos e a minha maior preocupação era acordar ao seu lado, com o cabelo fora do lugar e o travesseiro forrado de pocinhas de baba. Tudo muito normal dentro do meu ritual diário. Mas esse momento matutino era assustador por eu ter consciência de que a imagem de homem imaculado acabaria.

Coloquei o celular para despertar antes da minha vontade de viver. Som baixo, mas audível. Nos deitamos de conchinha porque é fofo. Rapidamente me senti sufocado e fui me desprendendo de você com delicadeza para não atrapalhar o seu sono profundo. Por vezes, levantei durante a noite. Caminhava até o banheiro, penteava o cabelo, lavava o rosto. Foi uma noite muito mal dormida, mas nada poderia mudar a minha vontade de manter a perfeição na hora de acordar. Futil? Talvez.

Deitei. Relaxei. Não ouvi o toque que interrompe os sonhos. Despertei no susto. Você não estava mais na cama. Corri para o banheiro, dei um tapa na cara e me arrastei lentamente até a sala. Lá estava o homem que eu ainda não conhecia. Cara amassada, calça furada e sentado no sofá, com café nas mãos e assistindo ao jornal em seu ritual matutino. Ele só me deu bom dia. Não gostava de se comunicar antes do dia atravessar a sua mente. As manhãs nos aproximaram ainda mais depois daquele dia.